The Almanack of Naval Ravikant é uma compilação de dicas sobre riqueza e felicidade. É mais um livro de filosofia do que de auto-ajuda.
Já li bons livros e já li maus livros. Com o tempo, aprendemos a distinguir entre uns e outros. The Almanack of Naval Ravikant não é um nem outro: é verdadeiramente diferente. Não necessariamente mau, não necessariamente bom.
Tenho a declarar, antes de prosseguir, que desconhecia Naval Ravikant (na imagem), os seus projetos e as suas ideias. Ainda assim, chegado a fim deste livro, sei que sou melhor por o ter lido. Visto desse prisma, foi uma boa opção: agradeço ao Jorge, que me o recomendou.
O problema é que sou cético por natureza. É uma qualidade enquanto jornalista, talvez seja defeito enquanto leitor. Naturalmente, isso tem um custo. A cada parágrafo, esse ceticismo foi entrando em cena e admito que possa ter toldado a minha visão.
Essa visão diz-me que, ao invés de verdade absoluta, as ideias compiladas neste almanaque enquadram-se no tradicional conceito de food for thought. Merecem séria consideração. No entanto, fazendo sentido para Naval Ravikant, devem ser ponderadas à luz dos princípios de cada um.
Considere-se isto um alerta, porque, no limite, estamos a falar de um livro de filosofia. Não o devemos confundir com uma obra de auto-ajuda.
“Como ser rico”
A primeira parte do almanaque traça-nos caminhos em direção à “riqueza”, na lógica típica da escola de pensamento de Silicon Valley. Chegar a multimilionário é tudo uma questão de mindset.
«Getting rich is about knowing what to do, who to do it with, and when to do it. It is much more about understanding than purely hard work.»
Naval Ravikant, citado por Eric Jorgenson
Não o digo como crítica. Concordo em absoluto que uma boa parte da sorte depende de nós mesmos e das nossas ações. Se não conhece os conceitos de rendimento passivo, compounding interest, equity, ownership e leverage, digo: go ahead. Não sendo o único, nem tampouco o melhor, o almanaque pode ser um bom primeiro contacto com estes termos.
Isso é, talvez, uma das virtudes deste livro: ser um repertório de bolso de ideias e pensamentos. Apesar de não mudar radicalmente a minha vida, The Almanack of Naval Ravikant, doravante, vai ser para mim um livro de consulta. Uma espécie de volante para quando me sinta à deriva.
“Como ser feliz”
A segunda parte deste livro diz-nos que ser-se feliz é “uma escolha”. É, eventualmente, a mais original e a mais intelectualmente interessante. Não significa que seja a melhor e a mais útil.
Destaco, ainda assim, a definição de “felicidade” de Naval Ravikant, apresentada neste almanaque:
«Happiness to me is mainly not suffering, not desiring, not thinking too much about the future or the past, really embracing the present moment and the reality of what is, and the way it is.»
Naval Ravikant, citado por Eric Jorgenson
É uma forma bem interessante de olhar para a questão. Se a felicidade é aceitar o que está, quanto da felicidade é conformismo? E como aceitar o que está quando o que está não nos deixa ser felizes? O almanaque fez-me pensar e ponderar sobre a minha própria situação e levou-me a tecer as minhas próprias conclusões.
Mas talvez por ser uma compilação de intervenções, textos e entrevistas, há ideias que são, também, contradições em si mesmas.
Por exemplo, no almanaque, numa parte dedicada aos hábitos de leitura, Naval Ravikant adverte-nos contra ler aquilo que a “multidão” está a ler. Noutra, diz-nos: “Read everything you can. There’s no such thing as junk.” E, noutra, recomenda-nos que leiamos os clássicos.
Podemos, de várias formas, procurar dar sentido a estas considerações. Mas, em pleno, não deixam de ser contradições. E não serão os clássicos dos livros mais lidos de sempre?
Conclusão
The Almanack of Naval Ravikant é, seguramente, um livro que vale a pena ler. Aliás, como reconheci logo no princípio, sinto que foi tempo bem investido: as ideias que inclui e os pensamentos que suscita podem ser relevantes para quem procura o seu próprio caminho.
Importa, por isso, salientar que esta minha análise não dever ser vista como uma crítica ao livro de Eric Jorgenson, mas sim como o resultado de uma introspeção profunda e pessoal. Não é da obra — é de mim.
O almanaque é gratuito e pode ser lido ou descarregado diretamente aqui. É outro fator de peso que me motiva a lançar-lhe este desafio: folheie ou leia o almanaque de uma ponta à outra. No final, a caixa de comentários deste artigo está aberta a receber a sua própria reflexão.
Título: The Almanack of Naval Ravikant
Autor: Eric Jorgenson
Ano: 2020
Editora: Magrathea Publishing
Páginas: 224
Preço: E-book gratuito (aqui)
Fotografia de destaque por Kris Krüg no Flickr, via Wikimedia Commons
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