O Global Trends 2040, publicado pelos serviços secretos dos EUA, traça um cenário sombrio do futuro que nos espera. É leitura essencial para entender as forças que estão a mudar o nosso mundo, e não necessariamente para melhor.
O planeta Terra é incrivelmente complexo e essa complexidade só tem vindo a aumentar. Para quem investe tempo a tentar compreende-lo, uma coisa é evidente: existe um conjunto de problemas emergentes que não têm solução aparente, ou que vão exigir escolhas muito difíceis ao longo dos próximos anos.
É isso que faz do recém-publicado Global Trends 2040 uma leitura essencial. De quatro em quatro anos, por ocasião de um novo mandato presidencial nos EUA, o Conselho Nacional de Inteligência divulga este tipo de trabalho, levantando o véu ao que pensam as agências de espionagem em relação ao nosso futuro.
Não é todos os dias que temos uma oportunidade deste género, pelo que é de se aproveitar. Mas vai encontrar tudo menos esperança nesta última edição. Num editorial do The New York Times, lê-se que os especialistas em Washington não se recordam de um relatório mais sombrio do que este. Ora, em 2008, o documento já previa uma pandemia como aquela em que vivemos.
O Global Trends 2040 ajudou-me a dar nomes às tendências que tenho vindo a observar nos últimos anos e, de certa forma, organizou o meu pensamento. Fundamentalmente, porque destaca cinco pontos que explicam porque caminhamos por esta senda de problemas, justificando, em linhas gerais, porque é que as nossas vidas têm mudado tanto ultimamente, por crises atrás de crises.
5 pilares da desgraça futura
- Desafios globais: São problemas como as alterações climáticas, as doenças infeciosas, as crises financeiras e a disrupção tecnológica. Segundo o relatório, “vão provavelmente manifestar-se com mais frequência e intensidade em praticamente todas as regiões e países”. Acrescenta: “Novas tecnologias vão aparecer e difundir-se cada vez mais rapidamente, gerando disrupção nos trabalhos, indústrias, comunidades, na natureza do poder e no que significa ser humano.”
- Fragmentação: Está a aumentar, paradoxalmente, mesmo num mundo cada vez mais conectado através das tecnologias de comunicação, do comércio global e da movimentação de pessoas. A contribuir ainda mais para este fenómeno está a tendência de gravitarmos para “silos de informação” onde estão pessoas que partilham de visões semelhantes às nossas. As nossas crenças, mesmo que falsas, saem-se reforçadas, assim como o entendimento do que é a verdade.
- Desequilíbrio: “Há uma crescente discrepância a todos os níveis entre desafios e necessidades e os sistemas e as organizações para lidarem com eles”, destaca o relatório dos serviços secretos norte-americanos. A consequência é a de que vai haver um fosso cada vez maior entre o que as pessoas exigem e o que os governos e as empresas são capazes de entregar.
- Contestação: Deriva do pilar anterior e abrange a crescente contestação social que existe em torno de várias matérias, desde os direitos humanos, por um lado, à contestação dos negacionistas da pandemia, por outro. A política vai tornar-se mais volátil em resultado disso.
- Adaptação: É a grande necessidade. O problema é que a adaptação não será igual para todos, o que reforçará a desigualdade. “Países com populações altamente envelhecidas, como China, Japão e Coreia do Sul, assim como a Europa, vão enfrentar constrangimentos no crescimento económico na falta de estratégias adaptativas, elenca o relatório. Mais: “Países capazes de aproveitar os impulsos da inteligência artificial vão ter oportunidades económicas mais alargadas que permitirão que os governos forneçam mais serviços, reduzam a dívida pública, financiem os custos de uma população envelhecida e ajudem alguns países emergentes a evitarem a armadilha do rendimento médio.”
O Global Trends 2040 é alimento para o pensamento e a sua leitura trará bem mais informação do que apenas estes cinco pontos gerais. Se o leu, deixe o seu comentário a este artigo. Qual a sua opinião sobre o que viu? Os alertas do relatório fazem sentido?
Imagem em destaque por Edvard Munch, domínio público
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