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O planeta que nos espera e as alterações climáticas

Há um antes e um depois de ler David Wallace-Wells. Mergulhe em The Uninhabitable Earth se julga que conhece bem as alterações climáticas.

Julgamos saber o que são as alterações climáticas até lermos David Wallace-Wells. Podemos conhecer a ciência, a lógica. Até podemos entender, no geral, as suas consequências. Mas, provavelmente, não percebemos a sua verdadeira dimensão.

E como poderíamos? Do alto do nosso privilégio, as ameaças da natureza enfurecida parecem-nos distantes. Porém, um olhar mais observador facilmente nos convence do contrário. As impressões digitais da emergência climática estão por todo o lado.

Uma das lições mais importantes que retiro do livro The Uninhabitable Earth é a de que o aquecimento global não produz fenómenos climáticos extremos avulso. Na verdade, exacerba-os a todos.

Não há inundações provocadas pelas alterações climáticas — as que existem são cada vez mais graves e cada vez mais frequentes. Os incêndios florestais queimam áreas maiores e ardem com mais força.

«Global warming is not “yes” or “no”, nor it is “today’s weather forever” or “doomsday tomorrow”. It is a function that gets worse over time as long as we continue to produce greenhouse gas.»

David Wallace-Wells

“É pior, muito pior do que imagina”

Para mim, há um antes e um depois de ler esta obra. E, caro leitor ou leitora, se ainda pensa que temos tempo para resolver o problema das emissões, desengane-se. David Wallace-Wells explica-nos que mesmo que consigamos atingir a meta definida no Acordo de Paris, o planeta que teremos dentro de alguns anos será imensamente diferente do que aquele que temos hoje.

Em The Uninhabitable Earth, a pintura do futuro é-nos feita logo nos primeiros capítulos. E não é bonita. Das grandes catástrofes naturais à fome, da subida do nível do mar às migrações em massa, do aumento dos conflitos armados à seca, e as pragas! As pandemias… Tudo nos é explicado com exemplos, à luz do conhecimento científico disponível.

Se tudo isto lhe parece irreal, note que este livro foi publicado em fevereiro de 2019. Já nessa altura, o autor nos alertava do seguinte: “We do not know the precise shape such suffering would take, cannot predict with certainty exactly how many acres of forest will burn each year […]; or which will be the first great pandemic to be produced by global warming.”

Cada página deste livro fez-me pensar em como mudar os meus hábitos e comportamentos. Mas o autor também é claro neste aspeto: não tenhamos ilusões. O nosso voto nas urnas é imensamente mais importante do que deixar as carnes vermelhas ou comprar um Tesla — sim, seria “nice”, mas não vai muito para lá disso. Não tem escala.

Antes, mudar o rumo do planeta exige vontade política e incentivos económicos. Devemos exigir mais aos nossos políticos, deixando de subsidiar energias poluentes e criando incentivos às renováveis. Aplicando taxas sobre as emissões de carbono e alterando os princípios basilares da nossa economia.

A infelicidade do conhecimento

Se partir para a aventura e mergulhar nas páginas deste livro, prepare-se. Confesso que, depois de o ler, também fiquei desolado. A dimensão do flagelo é tal que é impossível não suspirar.

The Uninhabitable Earth faz-nos repensar o nosso papel e importância neste planeta. E questionar, até, se faz algum tipo de sentido ter filhos nesta altura. David Wallace-Wells fala-nos disso e dá o seu testemunho: tem uma filha. Não se arrepende disso.

«Each new baby arrives in a brand-new world, contemplating a whole horizon of possibilities. The perspective is not naive. […] The next decades are not yet determined.»

David Wallace-Wells

Nunca fui nem serei fundamentalista. Talvez por isso este livro tenha sido ideal para mim: foi escrito por um jornalista, que apresenta dados e fundamenta muito bem as suas afirmações. Foi uma boa escolha para este princípio de ano, novamente confinado por causa da pandemia.

Título: The Uninhabitable Earth
Autor: David Wallace-Wells

Ano: 2019
Editora: Random House
Páginas: 320

Preço: 9,25 euros (Fnac)

Também há a tradução para português.

A seguir, poderá querer ler: “Estamos a ser assaltados”

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